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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Espera-me

Deixo aqui um poema dos tempos de solidão e angústia por que passam todos os homens. Lembro-me desses momentos com a certeza de que superá-los foi um exercício de força de vontade e fé para um amigo meu e ex-aluno e ex-colega de profissão, que hoje vive menos só, livre dos vícios que o atormentavam naquela época.


“Espera-me”

Quando olhardes para trás e vires
em meus olhos o quanto sou sozinho,
não me deixes ser mais o lobo hesse —
espera-me na beira do caminho...

Quando sentires que, embora ao teu lado,
meus pensares estejam longe, à procura,
não me deixes ser mais Sam Hamilton —
espera-me antes de chegares à loucura...

Quando beijares minha face molhada,
sem conseguires amainar o maremoto violento —
espera-me antes de te desfolhares ao vento.

Quando enfim desistires de me exorcizar,
entregando-te à morte como a um amigo —
espera-me, que quero ir contigo...

**************

Vi todo o processo de recuperação por que passou esse meu camarada. Para não usar um clichê, ou pelo menos incrementá-lo, digo-lhes que ele foi ao fundo do “corgão” e conseguiu voltar, “with a little help from his friends” e, sobretudo, com a fé naquela força maior que nos guia. Não foi fácil...
Esse meu amigo vai ler esse post. Hoje faz 20 anos de sobriedade. Tenho uma frase, minha mesmo, de que gosto muito e repito insistentemente: se a razão nos guia, a emoção nos move.
Vou mudá-la um pouco, mas a força dessas palavras permanecem: se a razão nos guia e a emoção nos move, a fé nos sustenta.

4 comentários:

  1. Inspirado, heim EDN?

    Citando Beatles e o "corgão do Cedro"...

    Sobre razão e emoção, eu gosto muito de uma frase da música "It's my Life" do grupo Talk Talk que diz: "Se a razão tivesse um preço/Eu pagaria para não tê-la."

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  2. Obrigado, mais uma vez, pela leitura atenta dos meus posts. Na verdade, o "corgão" não precisa ser o do Cedro. Essa metáfora é bem abrangente e ocorreu apenas para não cair no clichê "fundo do poço". Quanto à paráfrase de um trecho da famosa música dos rapazes de Liverpool, que é uma faixa do excelente álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, de 1967, usei como ênfase para o fato de que sempre precisamos dos amigos. A música foi composta por Paul McCartney, com a participação de Lennon na frase "What do you see when you turn on the lights? I can't tell you, but I know it's mine". Versões consagradas dessa canção surgiram na voz de muitos cantores, além dos Beatles, mas nenhuma tão original e tão identificada com alguém como a versão de Joe Cocker, especialmente a que ele cantou em Woodstock. Para finalizar, quanto à razão, mantenho minhas palavras.

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  3. Belo soneto e linda manifestação de apoio ao amigo.
    Deparar com situações difíceis e sair delas mais fortalecidos é um dos grandes desafios de nossas vidas.
    Adorei a metáfora do "corgão do Cedro"
    Abraços,
    Cida.

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  4. Obrigado, Cida, pelo comentário. O "corgão do Cedro" faz parte de minha memória, por vários motivos. Não apenas por ter vivido 24 anos de minha vida nas suas margens (passava no fundo de minha casa). Quando lá estava, era um momento muitas vezes só, em que minha introspecção já brotava inexorável. Acompanha-me até hoje. Reflito sobre a vida e sei valorizar o que tenho e o que tive. Sei que sou feliz, enquanto tantos não o podem ser. Por isso, ajudar as pessoas é algo que podemos fazer. Na verdade, ajudamos a nós mesmos. Crescemos aos nossos próprios olhos. Como é bom nos olharmos no espelho e podermos sentir orgulho de nós mesmos ao sabermos que pudemos ajudar alguém a se erguer...

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