Pesquisar este blog

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Sob a sombra das paineiras




Sob as sombras das paineiras, passei
Tantas vezes, sem que notasse as cores
E o tapete aveludado cobrindo os paralelepípedos
Com as flores que despencavam suavemente dos galhos
Derrubadas pelas aves e insetos bêbados de néctar
Inebriados pela beleza incomensurável daquelas árvores.
O apito da fábrica apressava-me os passos
E a escola me esperava
E o trabalho me esperava
E a namorada me esperava
E a casa em construção
E a vida sendo edificada...

Não passo tanto por lá mais...
Mas é como se as paineiras jamais tivessem me deixado
Sinto ainda o perfume das flores e a maciez das painas
espalhadas por onde piso
Marca de carinho da cidade que tem apelido de árvore
Ouço ainda os pássaros em festa e o zunzum das abelhas em seu lavor
O menino sai de dentro do homem
E nos paradoxos da vida
O menino se torna maior que o homem...