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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um caminho

A poesia manifesta-se de várias maneiras. Publico, a pedido de um aluno meu e para incentivá-lo, alguns poemas de sua autoria neste post. Devanil, aluno do 2º Período da EJA (Educação de Jovens e Adultos) do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Dora Silva.
A poesia do Devanil é de muita sensibilidade. Procurei fazer o mínimo de correções nos seus textos, respeitando ao máximo a sintaxe adotada por ele. Se considerarmos a norma culta, provavelmente muitos erros serão encontrados. Mas não é esse o objetivo deste post. Como coloquei no início, a poesia manifesta-se de várias maneiras. E é exatamente isso que os textos do Devanil nos proporciona: a oportunidade de perceber o lirismo evidente em seus versos.
Acredito que o Devanil, através de sua poesia, poderá desenvolver outras competências linguísticas e certamente o conhecimento da norma gramatical será uma delas, talvez a menos importante em sua vida. A mais importante competência linguística é a capacidade de expressar os seus sentimentos, sua percepção de mundo, de forma espontânea, muito mais essencial que o conhecimento da norma culta pura, sem aplicação prática. Suas poesias são um caminho...
Alguns de seus poemas não têm título. Faço então como fizeram com o Pessoa: o primeiro verso é o título do texto.
Vamos aos textos...



“Busquei por milhares de vezes...”


Busquei por milhares de vezes
palavras para expressar o quanto te amo
mas palavras exalam um som bonito
mas se perdem no ar
flores são lindas
mas murcham e as pétalas caem com o tempo
as estrelas sim seriam o ideal
mas como te dar elas
se você é a estrela que me dá direção e força
para que eu possa ir em busca do presente perfeito
para lhe dar
foi aí então que encontrei um livro velho com páginas em branco
pois sabia que você é uma excelente escritora
e ainda sei que você é capaz de escrever a nossa história
com paixão, ternura, cumplicidade
e por isso descobrir que a minha maior prova de amor
foi o meu coração, o meu caminho
para que eu possa te fazer feliz por toda a eternidade
e todas as outras vidas serei seu e você será minha.



“Fúria de amar (reflexões em torrentes do coração)”

Teria eu simplesmente amor à vida de tal maneira que de tantos sonhos não conseguiria viver a realidade. Mas que realidade é essa que só me faz sofrer por me sentir sozinho talvez porque vivo buscando o que não tem busca ou seria talvez o meu coração que está transbordando de sentimentos gritando ou até mesmo sentindo uma saudade nostálgica? Pois me sinto sozinho em meio à multidão e tendo como o meu maior aliado o silêncio que é banhado por lágrimas, por ter tantas feridas, pois as feridas do corpo cicatrizam, mas as feridas da alma talvez nem em um século vão cicatrizar, porque essas feridas não são de um tapa ou mesmo de uma queda, mas sim de palavras e feitos que não têm cura pois pessoas não machucam pessoas mas as palavras deixam marcas que vão pela eternidade. Pois mais vale a tristeza de uma queda que a derrota de nunca ter tentado ser feliz. E porque na caminhada que fazemos seria muito imprescindível conquistar seu lugar. Então continuo minha caminhada, caindo, me levantando para caminhar de novo, mas vou amar e ser feliz e poder dizer que valeu a pena até o dia em que devem fechar meus olhos, mas mesmo assim eu teria deixado a semente plantada e bem regada.



“Ser amigo”


Ser amigo não é apenas arte para muitos
mas sim para pessoas iluminadas
que não se julgam a mais ou a menos.
É saber dizer o sim e ao mesmo tempo um não
É saber sorrir não porque você conseguiu
mas sim por descobrir o quanto você é capaz.
E brilhar no meio de muitos
e não se deixar apagar por comentários de terceiros
e encontrar forças para estar sempre brilhando
e se transformar em uma águia
para sempre estar buscando novos horizontes.
Mas, acima disso tudo
DEUS sempre caminhando
com tudo em sua vida.




“O olhar de um egoísta”



Procurei em mil lugares
te encontrar para que
eu fosse feliz mas me
esquecendo que todos os
dias e a todo momento
você estava comigo mas
eu estava tão cego com a
minha verdade e o meu
egoísmo já tinha me
esquecido que você se
manifesta em todos os
seres vivos nas formas
mais sublimes da humildade:
o mais o que seria essa forma
em um sorriso de uma criança
na leveza do voo dos pássaros
ou até mesmo na fina e inacessível
brisa que sopra para refrescar
sua pele como se estivesse massageando
você com um véu de seda do campo.
Pois ele se faz ver a todo momento
e mais e mostra que você
precisa perder esse egoísmo para
poder ver que ele tá em tudo
te amando, respeitando e sem
cobrar de você
estou aqui




domingo, 26 de dezembro de 2010

Depois do Natal


Passado um dia do Natal, resolvo publicar este post. A poesia já estava pronta há alguns dias, mas não tive coragem de publicá-la antes.

A grande verdade é que o Natal sempre se apresenta para mim como um momento de reflexão e de confraternização, comguirlandao acontece com a maioria das famílias. Isso não é novidade alguma. Mas é uma data especial, por isso publico esse post.  Faço-o mais por mim mesmo, do que por qualquer outra coisa.


Para o Natal

Quando chega o Natal
Penso em que eu vou fazer
Na noite de chuva que virá
Pois chove dentro de mim


Quando chega o Natal
Reflito no sentido real
Que tem essa chuva
Que vem me inundar


É uma chuva serena
Quando chega o Natal
Lava-me o espírito
Faz-me ser um ser melhor


Quando chega o Natal
Um sentimento maior
Surge dentro de mim
Junto com essa chuva


Lembro-me então do motivo
De comemorarmos o Natal
Não é um simples nascimento
Não é um simples momento


A rima surge então para dar valor
Àquilo que essa chuva me traz
Um imenso, um enorme amor
Que me invade cada vez mais


Faz-me entender o Natal
Como algo muito natural
Um dia incomum na vida…
Na procura da rima, a lida
Faz-me aumentar a estrofe do poema
E este verso maior não é problema
Menor que o anterior
Mais grande que pequeno
Não o faz ser superior
E sim mais sereno…

guirlanda

sábado, 18 de dezembro de 2010

Sobre a decepção

Esta sexta-feira revelou-se um dia muito contraditório para mim. Primeiramente por um momento de plena felicidade e, eu diria até mesmo de êxtase, ao poder presenciar o Concerto de Aniversário (93 anos) da querida Banda de Música Euterpe Santa Luzia. O outro momento, que me leva a este post, foi de muita tristeza. O Conselho de Classe da escola onde leciono revelou-me a decepção pelo resultado de alguns alunos que, infelizmente, não obtiveram sucesso na tentativa de progressão.


É para mim sempre triste ver o mau resultado do aluno. Como educador, torço pelo sucesso de todos aqueles que trabalham junto a mim nas salas de aula e sinto-me responsável direto por encaminhá-los a um caminho que considero bom. Os educadores não somos donos da verdade, mas não devemos viver uma mentira. Querer aprovar os alunos a todo custo não é e nunca será a melhor solução. Reprová-los também não é. Então, o que fazer?


Acredito que a resposta não é muito simples. Creio, entretanto, que deve haver uma divisão de responsabilidades. Não sou adepto do discurso de que "se o aluno não aprendeu é porque o professor não ensinou". Sinceramente, já pensei assim e muitas noites mal dormidas remoendo o meu suposto fracasso eu passei. Mas mudei de opinião. Acredito hoje, depois de 25 anos de magistério, que a aprendizagem é uma via de mão dupla. Mudo o discurso para "se o aluno não aprendeu é porque ainda não entendeu o quanto isso é importante em sua vida". A aprendizagem é uma via de mão dupla e o aluno deve ter em mente que ele precisa mover-se para aprender. E a aprendizagem é fruto de trabalho. De muito trabalho. A escola não é apenas um espaço lúdico. É, na sua essência, um lugar de muito trabalho. E quem não trabalha, não evolui. Esta é a verdadeira seleção natural. A sociedade cobra muito mais que a escola, que jamais deve se furtar ao papel de verdadeiramente preparar os jovens para a vida social.


Isso pode nos trazer, muitas vezes, a revolta dos alunos que não vencem os desafios da progressão escolar. Muitos são os motivos que levam a isso, mas o que não consigo entender é porque mais recentemente as coisas estão piores, descambando para o campo da violência contra educadores. Já publiquei um post em "Os Invicioneiros" a respeito desse tema. Abordo especialmente a morte do professor Kássio Vinícius, assassinado selvagemente por um aluno. Recebi neste sábado um e-mail de um amigo a respeito do mesmo tema. Achei a abordagem brilhante e gostaria de compartilhá-la com os leitores deste blog.



J’ACUSE !!!
(Eu acuso !)

(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)
"Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice." (Émile Zola)
"Meu dever é falar, não quero ser cúmplice."


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.


Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e  do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os  “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.



(Igor Pantuzza Wildmann - Advogado, Doutor em Direito. Professor universitário)


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Reproduzo esse texto como forma de divulgar uma brilhante cutucada na nossa sociedade e uma oportunidade de repensarmos o valor da educação, lembrando que apenas uma pequena parte dela ocorre nos bancos escolares. O verdadeiro educandário é o lar e a vida social é cheia de provas difíceis (muito mais do que as provas de Língua Portuguesa do professor Ernane Duarte).


Teacher and students, Holland Marsh, [ca. 1953]
Gordon W. Powley fonds - Black and white negative - Reference Code: C 5-1-0-183-12


domingo, 7 de novembro de 2010

Agradecer


Muitas vezes, dizer as palavras certas não é coisa fácil. Eu queria nesse breve post, simplesmente agradecer. Mas queria que as palavras pudessem de fato expressar toda a minha gratidão e elas jamais conseguirão isso. 

Participei no último sábado de um maravilhoso evento promovido pela Escola Municipal Emílio de Vasconcelos Costa, de Caetanópolis, seu Recital de Poesias. Quanta emoção, transbordante de meus olhos, o tempo todo um mar! Desde as apresentações dos pequeninos do pré-escolar aos jovens brilhantes do 9º Ano, uma sucessão de sentimentos submetidos à saudade, aliterados e assonantes na singela sensação de ser especial.

Como foram especiais cada um daqueles que se apresentaram. Trouxeram novamente a lembrança de que nos eternizamos no coração das pessoas por tudo o que representarmos em vida. A cada momento que vivemos e, sobretudo, convivemos, deixamos marcas que nos tornarão eternos ou que nos relegarão ao esquecimento.

As pessoas homenageadas sob a égide da saudade, minha irmã Lourdes e a sua colega de trabalho Ana, deixaram marcas que as eternizaram. Cada um dos que as conheceram certamente vão se lembrar delas.

Da minha irmã lembram-me o abraço cheiroso, o diminutivo no meu nome e o carinho eterno. Ao lado disso, a dor da perda atenua-se com o tempo, diante da sempre difícil constatação de nossa incapacidade diante da inexorável, como dizia o Manuel Bandeira.

Foi tudo tão bonito no Recital e eu queria agradecer a todos que o fizeram tão especial. A rima não foi proposital. Mas parece que algo sobrenatural nos toma em momentos assim e as palavras ainda que incapazes de dizer, enfim, tudo aquilo que gostaríamos de revelar, pelo menos deixa a intenção singela.

Queria deixar uns versos, mas não tenho poder sobre a poesia. Ela se manifesta quando quer e não é agora este momento. No entanto, aqui está minha emoção. Reproduzo-a em prosa, mas queria que fosse uma rosa que eu pudesse entregar a todos do Emílio.

Ao fim, digo então um obrigado, como manifestação do meu agrado.

Rose red-rose

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Neimar de Barros – Deus Negro

 

Deus Negro.

 

 

Vejo, por acaso, uma frase na internet atribuída a Neimar de Barros. Não, ele não foi jogador de futebol. Lembro-me então de quanto esse escritor influenciou-me quanto tinha meus treze anos e um pouco mais. Foi-me apresentado em livro (“Deus Negro”) por meu irmão padrinho, o Dendê (nunca o chamo assim fora da blogosfera). É um livro de palavras impressionantes! Despertou em mim uma religiosidade resistente que me alimenta até hoje e que é a base de minha estrutura humana.

 

No momento em que li de novo palavras de Neimar de Barros, percebi que não o conhecia bem, não sabia da sua história nem porque escritor tão badalado que foi naquele tempo não era mais falado nos meios editoriais que frequento. Perguntei ao detetive Google e ele revelou-me coisas muito interessantes a respeito desse homem. Reproduzo abaixo a síntese de algumas dessas informações, colhidas em alguns sítios da rede.

 

Neimar de Barros, antes de se tornar escritor, trabalhava com o Sílvio Santos. Segundo a Wikipedia, era conhecido produtor de televisão da equipe do homem do sorriso. No início da década de 70, teria criado e produzido programas de grande audiência como “Cidade contra Cidade”, “Boa Noite Cinderela”, entre outros.

 

Ainda segundo a enciclopédia virtual, Em 1971 foi convidado a participar de um encontro dentro da Igreja Católica, o “cursilho”. Como ateu, ele aceitou desafiar o convite dizendo que só acreditava no que podia ver. No terceiro e último dia, depois de ter aprontado e atrapalhado o encontro, entrou na capela e algo o fez ajoelhar-se, uma grande emoção o tomou e ali naquela hora aconteceu sua conversão.

 

Acabou deixando o trabalho na antiga TVS e tornou-se o famoso escritor de mais de 10 livros de temática religiosa (inclusive em espanhol), com destaque para o best-seller “Deus Negro”, que vendeu mais de 4 milhões de exemplares. Virou palestrante, lotando ginásios de esportes, auditórios, igrejas e teatros, com tanto destaque, que foi capa da revista “Família Cristã”, a maior publicação católica do Brasil, da editora Paulinas. Como leigo conseguiu quebrar vários paradigmas, sendo uma forte referência dentro da Igreja Católica.

 

Mas como nem tudo que é bom dura para sempre, esse Neimar de Barros passou por vários problemas não divulgados claramente (suspeita-se que teve problemas psicológicos e neurológicos) e algo mudou. Em 1986, ele concedeu uma entrevista bombástica à revista Veja, revelando que sua conversão teria sido uma farsa. Ele contou ter sido contratado por uma loja maçônica internacional (P2), para se infiltrar na Igreja Católica e repassar informações sobre a conduta de religiosos. A maioria de seus admiradores não acreditou nessa história, e sabemos que a Revista Veja teve recordes de venda naquela semana, ultrapassando 900 mil exemplares. Depois disso, Neimar escreveu dois livros contando a mesma história, sem sucesso e que nunca foi comprovada.

 

 

A_VERDADE_DE_NEIMAR_DE_BARROS

 

 

Oculto por alguns anos, ele depois reapareceu na equipe de Sílvio Santos, trabalhando novamente como produtor. Hoje leva uma vida simples, e fica a dúvida se o autor de “Deus Negro” de fato existiu ou foi um personagem de uma história ainda incompleta. Mas não há nenhuma dúvida de que sua obra foi um marco na vida de toda uma geração que leu seus livros, em especial “Deus Negro”.

 

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DEUS NEGRO

Autor: Neimar de Barros

 

 

Eu, detestando pretos,

Eu, sem coração!...

Eu, perdido num coreto,

Gritando: “Separação”!

Eu, você, nós... nós todos,

Cheios de preconceitos,

Fugindo como se eles carregassem lodo,

Lodo na cor...

E com petulância, arrogância,

Afastando a pele irmã.

 

Mas

Estou pensando agora:

E quando chegar minha hora?

Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã!

Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,

Se eu chegasse lá e um porteiro manco,

Como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,

E eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei

Se a sua mão tateasse pelo trinco,

Como as mãos do cego que não ajudei!

 

Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei!

Se uma criança me tomasse pela mão,

Criança como aquela que não embalei

E me levasse por um corredor florido, colorido,

Como as flores que eu jamais dei!

 

Se eu sentisse o chão frio,

Como o dos presídios que não visitei!

Se eu visse as paredes caindo,

Como as das creches e asilos que não ajudei!

 

E se a criança tirasse corpos do caminho,

Corpos que eu não levantei

Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,

Que era vagabundagem, mas era fome!

 

Meu Deus!

Agora me assusta pronunciar seu nome!

E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,

Da prostituta que eu usei,

Ou do moribundo que não olhei,

Ou da velha que não respeitei,

Ou da mãe que não amei!...

 

Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,

Porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,

Sei lá, só dei desgosto!

E, no fim do corredor, o início da decepção!

 

Que raiva, que desespero,

Se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,

O maldito funcionário, e até, até o padeiro,

Todos sorrindo não sei de quê!

Ah! Sei sim, riem da minha decepção.

 

Deus não está vestido de ouro! Mas como???

Está num simples trono:

Simples como não fui, humilde como não sou.

Deus decepção!

Deus na cor que eu não queria,

Deus cara a cara, face a face,

Sem aquela imponente classe.

Deus simples! Deus negro!

Deus negro!?

 

E Eu...

Racista, egoísta. E agora?

Na terra só persegui os pretos,

Não aluguei casa, não apertei a mão.

Meu Deus você é negro, que desilusão!

Será que vai me dar uma morada?

Será que vai apertar minha mão? Que nada!

 

Meu Deus você é negro, que decepção !

Não dei emprego, virei o rosto. E agora?

Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?

Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?

 

Deus, eu não podia adivinhar.

Por que você se fez assim?

Por que se fez preto, preto como o engraxate,

Aquele que expulsei da frente de casa!

 

Deus, pregaram você na cruz

E você me pregou uma peça:

Eu me esforcei à beça em tantas coisas,

E cheguei até a pensar em amor,

Mas nunca,

nunca pensei em adivinhar sua cor!...

 

© Neimar de Barros

 

 

Deus Negro

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Expressão maior dos sentimentos


Nesse momento, quero falar do que me motivou inicialmente a revelar-me no espaço virtual: a poesia. Promovemos nestes dias um recital de poesias na escola onde leciono. Trata-se de um evento maiúsculo para mim, por tudo que representa. É a oportunidade de revelarmos talentos escondidos, seja para escrever poesias, seja para representá-las. É a oportunidade de também possibilitarmos aos alunos o desenvolvimento da expressão oral e corporal. E o recital de poesias também permite apresentar de uma maneira mais atraente os grandes nomes da poesia em língua portuguesa.

Sempre coloquei a poesia como a expressão maior dos sentimentos humanos através de palavras. E, nesse breve post, reitero esse meu julgamento, com algumas poesias dos meus prediletos, que meus alunos estarão apresentando na final do nosso recital, prevista para o dia 07/10/2010 (no meio delas, uma mais indigna deste que lhes fala).



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A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste



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TRADUZIR-SE


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.


Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.


Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.


Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.


Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.


Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.


Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?




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QUITANDEIRA
(Agostinho Neto, poeta angolano)


A quitanda.
         Muito sol
e a quitandeira à sombra
da mulemba.


— Laranja, minha senhora,
laranjinha boa!


A luz brinca na cidade
o seu quente jogo
de claros e escuros
e a vida brinca
em corações aflitos
o jogo da cabra-cega.


A quitandeira
que vende fruta
vende-se.


— Minha senhora
laranja, laranjinha boa!


Compra laranja doces
compra-me também o amargo
desta tortura
da vida sem vida.


Compra-me a infância do espírito
este botão de rosa
que não abriu
princípio impelido ainda para um início.


Laranja, minha senhora!


Esgotaram-se os sorrisos
com que chorava
eu já não choro.


E aí vão as minhas esperanças
como foi o sangue dos meus filhos
amassado no pó das estradas
enterrado nas roças
e o meu suor
embebido nos fios de algodão
que me cobrem.


Como o esforço foi oferecido
à segurança das máquinas
à beleza das ruas asfaltadas
de prédios de vários andares
à comodidade de senhores ricos
à alegria dispersa por cidades
e eu
me fui confundindo
com os próprios problemas da existência.


Aí vão as laranjas
como eu me ofereci ao álcool
para me anestesiar
e me entreguei às religiões
para me insensibilizar
e me atordoei para viver.

Tudo tenho dado.

Até mesmo a minha dor
e a poesia dos meus seios nus
entreguei-as aos poetas.


Agora vendo-me eu própria.
— Compra laranjas
minha senhora!
Leva-me para as quitandas da Vida
o meu preço é único:
— sangue.


Talvez vendendo-me
eu me possua.


— Compra laranjas!




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LÁ NO ÁGUA GRANDE
(Alda Espírito Santo, poetisa de São Tomé e Príncipe)


Lá no “Água Grande” a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.


Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.


Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.


As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.


E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.

                   (É nosso o solo sagrado da terra)

No mesmo lado da canoa
As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato,
jorrando das encostas ferruginosas
na manhã clara do dia-a-dia.


É assim que eu te falo,
meu irmão contratado numa roça de café
meu irmão que deixas teu sangue numa ponte
ou navegas no mar, num pedaço de ti mesmo em luta com o gandu (1)
Minha irmã, lavando, lavando
p'lo pão dos seus filhos,
minha irmã vendendo caroço
na loja mais próxima
p'lo luto dos seus mortos,
minha irmã conformada
vendendo-se por uma vida mais serena,
aumentando afinal as suas penas...
É para vós, irmãos, companheiros da estrada
o meu grito de esperança
convosco eu me sinto dançando
nas noites de tuna
em qualquer fundão, onde a gente se junta,
convosco, irmãos, na safra do cacau,
convosco ainda na feira,
onde o izaquente (2) e a galinha vão render dinheiro.
Convosco, impelindo a canoa p'la praia
juntando-me convosco
em redor do voador panhá (3)
juntando-me na gamela
vadô tlebessá4
a dez tostões.


Mas as nossas mãos milenárias
separam-se na areia imensa
desta praia de S. João
porque eu sei, irmão meu, tisnado como eu p'la vida,
tu pensas irmão da canoa
que nós os dois, carne da mesma carne
batidos p'los vendavais do tornado
não estamos do mesmo lado da canoa.


Escureceu de repente.
Lá longe no outro lado da Praia
na ponta de S. Marçal
há luzes, muitas luzes
nos quixipás (5) sombrios...
O pito dóxi (6) arrepiante, em sinais misteriosos
convida à unção desta noite feiticeira...
Aqui só os iniciados
no ritmo frenético dum batuque de encomendação
aqui os irmão do Santu
requebrando loucamente suas cadeiras
soltando gritos desgarrados,
palavras, gestos,
na loucura dum rito secular.


Neste lado da canoa, eu também estou irmão,
na tua voz agonizante, encomendando preces, juras, maldições.


Estou aqui, sim, irmão
nos nozados (7) sem tréguas
onde a gente joga
a vida dos nossos filhos.
Estou aqui, sim, meu irmão
no mesmo lado da canoa.


Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela.
Queremos unir as nossas mãos milenárias,
das docas dos guindastes
das roças, das praias
numa liga grande, comprida
dum pólo a outro da terra
p'los sonhos dos nossos filhos
para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa.


E a tarde desce...
A canoa desliza serena,
rumo à Praia Maravilhosa
onde se juntam os nossos braços
e nos sentamos todos, lado a lado,
na canoa das nossas praias.

                   (É nosso o solo sagrado da terra)


Vocabulário:
1 - Gandu: tubarão;
2 - Izaquente: frutos cujas sementes são caracterizadas por um alto poder energético;
3 - Vadô Panhá: espécie de peixe voador que no tempo seco se apanha na praia;
4 - Vadô tlebessá: peixe voador que se distingue do vadô panhá por apenas se pescar em alto mar;
5 - Quixipás: barracas feitas com folhas de palmeira;
6 - Pitu dóxi: “apito doce”, literalmente. Flautista virtuoso;
7 - Nozado: velório.




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LISBON REVISITED (1923)
(Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa)


NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.


Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.


Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!


Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!


Que mal fiz eu aos deuses todos?


Se têm a verdade, guardem-na!


Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?


Não me macem, por amor de Deus!


Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?


Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.  Quero ser sozinho. 
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!


Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita! 
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.


Deixem-me em paz!  Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!




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DEDICATÓRIA


A pomba d'aliança o vôo espraia
Na superfície azul do mar imenso,
Rente... rente da espuma já desmaia
Medindo a curva do horizonte extenso...
Mas um disco se avista ao longe... A praia
Rasga nitente o nevoeiro denso!...
Ó pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!
Ninho amigo da pomba forasteira! ...


Assim, meu pobre livro as asas larga
Neste oceano sem fim, sombrio, eterno...
O mar atira-lhe a saliva amarga,
O céu lhe atira o temporal de inverno. . .
O triste verga à tão pesada carga!
Quem abre ao triste um coração paterno?...
É tão bom ter por árvore — uns carinhos!
É tão bom de uns afetos — fazer ninhos!


Pobre órfão! Vagando nos espaços
Embalde às solidões mandas um grito!
Que importa? De uma cruz ao longe os braços
Vejo abrirem-se ao mísero precito...
Os túmulos dos teus dão-te regaços!
Ama-te a sombra do salgueiro aflito...
Vai, pois, meu livro! e como louro agreste
Traz-me no bico um ramo de... cipreste!



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QUANDO A POESIA SE FORMA
(Enanre Etraud)


Quando a poesia se forma
Perco-me em devaneios loucos
Não sei mais quem sou
Não sei onde estou
Nem para onde vou...


As palavras envolvem-me como bolhas
E transportam-me até lugares incríveis
Em que sonho e realidade se confundem
E todas as coisas são possíveis...


Viajo então levado pelo vento
No veleiro veloz de meu pensamento
Vendo ao longe o horizonte próximo
E ao mesmo tempo inalcançável...
Pois o horizonte do poema é vasto,
Seus limites são intransponíveis...
No entanto, suas verdades se expandem
E trazem em si a fantasia —
Quando se forma a poesia...



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Detenho-me aqui, pois há muitos poemas mais e o espaço e paciência dos leitores podem não suportar.