“Busquei por milhares de vezes...”
Busquei por milhares de vezespalavras para expressar o quanto te amomas palavras exalam um som bonitomas se perdem no arflores são lindasmas murcham e as pétalas caem com o tempoas estrelas sim seriam o idealmas como te dar elasse você é a estrela que me dá direção e forçapara que eu possa ir em busca do presente perfeitopara lhe darfoi aí então que encontrei um livro velho com páginas em brancopois sabia que você é uma excelente escritorae ainda sei que você é capaz de escrever a nossa históriacom paixão, ternura, cumplicidadee por isso descobrir que a minha maior prova de amorfoi o meu coração, o meu caminhopara que eu possa te fazer feliz por toda a eternidadee todas as outras vidas serei seu e você será minha.
“Fúria de amar (reflexões em torrentes do coração)”
Teria eu simplesmente amor à vida de tal maneira que de tantos sonhos não conseguiria viver a realidade. Mas que realidade é essa que só me faz sofrer por me sentir sozinho talvez porque vivo buscando o que não tem busca ou seria talvez o meu coração que está transbordando de sentimentos gritando ou até mesmo sentindo uma saudade nostálgica? Pois me sinto sozinho em meio à multidão e tendo como o meu maior aliado o silêncio que é banhado por lágrimas, por ter tantas feridas, pois as feridas do corpo cicatrizam, mas as feridas da alma talvez nem em um século vão cicatrizar, porque essas feridas não são de um tapa ou mesmo de uma queda, mas sim de palavras e feitos que não têm cura pois pessoas não machucam pessoas mas as palavras deixam marcas que vão pela eternidade. Pois mais vale a tristeza de uma queda que a derrota de nunca ter tentado ser feliz. E porque na caminhada que fazemos seria muito imprescindível conquistar seu lugar. Então continuo minha caminhada, caindo, me levantando para caminhar de novo, mas vou amar e ser feliz e poder dizer que valeu a pena até o dia em que devem fechar meus olhos, mas mesmo assim eu teria deixado a semente plantada e bem regada.
“Ser amigo”
Ser amigo não é apenas arte para muitosmas sim para pessoas iluminadasque não se julgam a mais ou a menos.É saber dizer o sim e ao mesmo tempo um nãoÉ saber sorrir não porque você conseguiumas sim por descobrir o quanto você é capaz.E brilhar no meio de muitose não se deixar apagar por comentários de terceirose encontrar forças para estar sempre brilhandoe se transformar em uma águiapara sempre estar buscando novos horizontes.Mas, acima disso tudoDEUS sempre caminhandocom tudo em sua vida.
“O olhar de um egoísta”
Procurei em mil lugareste encontrar para queeu fosse feliz mas meesquecendo que todos osdias e a todo momentovocê estava comigo maseu estava tão cego com aminha verdade e o meuegoísmo já tinha meesquecido que você semanifesta em todos osseres vivos nas formasmais sublimes da humildade:o mais o que seria essa formaem um sorriso de uma criançana leveza do voo dos pássarosou até mesmo na fina e inacessívelbrisa que sopra para refrescarsua pele como se estivesse massageandovocê com um véu de seda do campo.Pois ele se faz ver a todo momentoe mais e mostra que vocêprecisa perder esse egoísmo parapoder ver que ele tá em tudote amando, respeitando e semcobrar de vocêestou aqui
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Um caminho
domingo, 26 de dezembro de 2010
Depois do Natal
Para o Natal
Quando chega o Natal
Penso em que eu vou fazer
Na noite de chuva que virá
Pois chove dentro de mim
Quando chega o Natal
Reflito no sentido real
Que tem essa chuva
Que vem me inundar
É uma chuva serena
Quando chega o Natal
Lava-me o espírito
Faz-me ser um ser melhor
Quando chega o Natal
Um sentimento maior
Surge dentro de mim
Junto com essa chuva
Lembro-me então do motivo
De comemorarmos o Natal
Não é um simples nascimento
Não é um simples momento
A rima surge então para dar valor
Àquilo que essa chuva me traz
Um imenso, um enorme amor
Que me invade cada vez mais
Faz-me entender o Natal
Como algo muito natural
Um dia incomum na vida…
Na procura da rima, a lida
Faz-me aumentar a estrofe do poema
E este verso maior não é problema
Menor que o anterior
Mais grande que pequeno
Não o faz ser superior
E sim mais sereno…
sábado, 18 de dezembro de 2010
Sobre a decepção
(Eu acuso !)
(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)
"Meu dever é falar, não quero ser cúmplice."
Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.
No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...
E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”
Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...
Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.
A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
(Igor Pantuzza Wildmann - Advogado, Doutor em Direito. Professor universitário)
Gordon W. Powley fonds - Black and white negative - Reference Code: C 5-1-0-183-12
domingo, 7 de novembro de 2010
Agradecer
Muitas vezes, dizer as palavras certas não é coisa fácil. Eu queria nesse breve post, simplesmente agradecer. Mas queria que as palavras pudessem de fato expressar toda a minha gratidão e elas jamais conseguirão isso.
Participei no último sábado de um maravilhoso evento promovido pela Escola Municipal Emílio de Vasconcelos Costa, de Caetanópolis, seu Recital de Poesias. Quanta emoção, transbordante de meus olhos, o tempo todo um mar! Desde as apresentações dos pequeninos do pré-escolar aos jovens brilhantes do 9º Ano, uma sucessão de sentimentos submetidos à saudade, aliterados e assonantes na singela sensação de ser especial.
Como foram especiais cada um daqueles que se apresentaram. Trouxeram novamente a lembrança de que nos eternizamos no coração das pessoas por tudo o que representarmos em vida. A cada momento que vivemos e, sobretudo, convivemos, deixamos marcas que nos tornarão eternos ou que nos relegarão ao esquecimento.
As pessoas homenageadas sob a égide da saudade, minha irmã Lourdes e a sua colega de trabalho Ana, deixaram marcas que as eternizaram. Cada um dos que as conheceram certamente vão se lembrar delas.
Da minha irmã lembram-me o abraço cheiroso, o diminutivo no meu nome e o carinho eterno. Ao lado disso, a dor da perda atenua-se com o tempo, diante da sempre difícil constatação de nossa incapacidade diante da inexorável, como dizia o Manuel Bandeira.
Foi tudo tão bonito no Recital e eu queria agradecer a todos que o fizeram tão especial. A rima não foi proposital. Mas parece que algo sobrenatural nos toma em momentos assim e as palavras ainda que incapazes de dizer, enfim, tudo aquilo que gostaríamos de revelar, pelo menos deixa a intenção singela.
Queria deixar uns versos, mas não tenho poder sobre a poesia. Ela se manifesta quando quer e não é agora este momento. No entanto, aqui está minha emoção. Reproduzo-a em prosa, mas queria que fosse uma rosa que eu pudesse entregar a todos do Emílio.
Ao fim, digo então um obrigado, como manifestação do meu agrado.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Neimar de Barros – Deus Negro
Vejo, por acaso, uma frase na internet atribuída a Neimar de Barros. Não, ele não foi jogador de futebol. Lembro-me então de quanto esse escritor influenciou-me quanto tinha meus treze anos e um pouco mais. Foi-me apresentado em livro (“Deus Negro”) por meu irmão padrinho, o Dendê (nunca o chamo assim fora da blogosfera). É um livro de palavras impressionantes! Despertou em mim uma religiosidade resistente que me alimenta até hoje e que é a base de minha estrutura humana.
No momento em que li de novo palavras de Neimar de Barros, percebi que não o conhecia bem, não sabia da sua história nem porque escritor tão badalado que foi naquele tempo não era mais falado nos meios editoriais que frequento. Perguntei ao detetive Google e ele revelou-me coisas muito interessantes a respeito desse homem. Reproduzo abaixo a síntese de algumas dessas informações, colhidas em alguns sítios da rede.
Neimar de Barros, antes de se tornar escritor, trabalhava com o Sílvio Santos. Segundo a Wikipedia, era conhecido produtor de televisão da equipe do homem do sorriso. No início da década de 70, teria criado e produzido programas de grande audiência como “Cidade contra Cidade”, “Boa Noite Cinderela”, entre outros.
Ainda segundo a enciclopédia virtual, Em 1971 foi convidado a participar de um encontro dentro da Igreja Católica, o “cursilho”. Como ateu, ele aceitou desafiar o convite dizendo que só acreditava no que podia ver. No terceiro e último dia, depois de ter aprontado e atrapalhado o encontro, entrou na capela e algo o fez ajoelhar-se, uma grande emoção o tomou e ali naquela hora aconteceu sua conversão.
Acabou deixando o trabalho na antiga TVS e tornou-se o famoso escritor de mais de 10 livros de temática religiosa (inclusive em espanhol), com destaque para o best-seller “Deus Negro”, que vendeu mais de 4 milhões de exemplares. Virou palestrante, lotando ginásios de esportes, auditórios, igrejas e teatros, com tanto destaque, que foi capa da revista “Família Cristã”, a maior publicação católica do Brasil, da editora Paulinas. Como leigo conseguiu quebrar vários paradigmas, sendo uma forte referência dentro da Igreja Católica.
Mas como nem tudo que é bom dura para sempre, esse Neimar de Barros passou por vários problemas não divulgados claramente (suspeita-se que teve problemas psicológicos e neurológicos) e algo mudou. Em 1986, ele concedeu uma entrevista bombástica à revista Veja, revelando que sua conversão teria sido uma farsa. Ele contou ter sido contratado por uma loja maçônica internacional (P2), para se infiltrar na Igreja Católica e repassar informações sobre a conduta de religiosos. A maioria de seus admiradores não acreditou nessa história, e sabemos que a Revista Veja teve recordes de venda naquela semana, ultrapassando 900 mil exemplares. Depois disso, Neimar escreveu dois livros contando a mesma história, sem sucesso e que nunca foi comprovada.
Oculto por alguns anos, ele depois reapareceu na equipe de Sílvio Santos, trabalhando novamente como produtor. Hoje leva uma vida simples, e fica a dúvida se o autor de “Deus Negro” de fato existiu ou foi um personagem de uma história ainda incompleta. Mas não há nenhuma dúvida de que sua obra foi um marco na vida de toda uma geração que leu seus livros, em especial “Deus Negro”.
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DEUS NEGRO
Autor: Neimar de Barros
Eu, detestando pretos,
Eu, sem coração!...
Eu, perdido num coreto,
Gritando: “Separação”!
Eu, você, nós... nós todos,
Cheios de preconceitos,
Fugindo como se eles carregassem lodo,
Lodo na cor...
E com petulância, arrogância,
Afastando a pele irmã.
Mas
Estou pensando agora:
E quando chegar minha hora?
Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã!
Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,
Se eu chegasse lá e um porteiro manco,
Como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,
E eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei
Se a sua mão tateasse pelo trinco,
Como as mãos do cego que não ajudei!
Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei!
Se uma criança me tomasse pela mão,
Criança como aquela que não embalei
E me levasse por um corredor florido, colorido,
Como as flores que eu jamais dei!
Se eu sentisse o chão frio,
Como o dos presídios que não visitei!
Se eu visse as paredes caindo,
Como as das creches e asilos que não ajudei!
E se a criança tirasse corpos do caminho,
Corpos que eu não levantei
Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,
Que era vagabundagem, mas era fome!
Meu Deus!
Agora me assusta pronunciar seu nome!
E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,
Da prostituta que eu usei,
Ou do moribundo que não olhei,
Ou da velha que não respeitei,
Ou da mãe que não amei!...
Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,
Porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,
Sei lá, só dei desgosto!
E, no fim do corredor, o início da decepção!
Que raiva, que desespero,
Se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,
O maldito funcionário, e até, até o padeiro,
Todos sorrindo não sei de quê!
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.
Deus não está vestido de ouro! Mas como???
Está num simples trono:
Simples como não fui, humilde como não sou.
Deus decepção!
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara a cara, face a face,
Sem aquela imponente classe.
Deus simples! Deus negro!
Deus negro!?
E Eu...
Racista, egoísta. E agora?
Na terra só persegui os pretos,
Não aluguei casa, não apertei a mão.
Meu Deus você é negro, que desilusão!
Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão? Que nada!
Meu Deus você é negro, que decepção !
Não dei emprego, virei o rosto. E agora?
Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?
Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?
Deus, eu não podia adivinhar.
Por que você se fez assim?
Por que se fez preto, preto como o engraxate,
Aquele que expulsei da frente de casa!
Deus, pregaram você na cruz
E você me pregou uma peça:
Eu me esforcei à beça em tantas coisas,
E cheguei até a pensar em amor,
Mas nunca,
nunca pensei em adivinhar sua cor!...
© Neimar de Barros