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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sobre a gramática





Recentemente postei em “Os Invicioneiros” texto que comentava sobre polêmica surgida acerca do livro “Por uma vida melhor”, de Heloísa Ramos. Não vou me aprofundar sobre o post, mas fiquei surpreso pelos comentários e, sobretudo, pela polêmica em si nas redes sociais de um modo geral.

Trata-se de um tema árduo. Escrevo aqui neste meu Poetopias a respeito desse tema, sem, no entanto, querer discuti-lo. Antes quero ironizá-lo. Para tanto, valho-me de brilhantes companhias que ora convoco para ajudar-me: Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade, Camões e Oswald de Andrade.

Não tecerei maiores comentários. Meus amigos falam o suficiente.


O Assassino era o Escriba


Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético
de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

Fontes: Paulo Leminski.Caprichos e relaxos.São Paulo: Brasiliense,1983.





 Aula de português


A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond






Erro de português


Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português





Pronominais
(Oswald de Andrade)


Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro



2 comentários:

  1. Muito bem. Um ironia fina sempre tem o seu lugar.

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  2. Coqueiro, a ironia é uma ferramenta dos sábios para tratar de temas árduos junto àqueles que têm mais dificuldade de conceber sua ignorância sobre determinados temas. Eu, por exemplo, enquadro-me nesse grupo (dos ignorantes).

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