Entro no ônibus com um bom dia tímido e não correspondido. Faço-o por educação e por formalidade. Busco um lugar para sentar, de preferência que não tenha um outro passageiro. Encontro um nas últimas poltronas do fundo. Sento-me e fico calado, pedindo a Deus uma viagem segura.
Após alguns meses, surpreendo-me agora como mudei. Isolo-me em minha viagem como aqueles que um dia critiquei. Sei que isso não condiz comigo e, às vezes, volto ao que sou quando encontro alguém que me permita isso. As crianças e os idoso são meu alvo predileto de interlocução.
Sei que não é fácil vencer os desafios do mundo moderno, mas percebo que nos sujeitamos com muita facilidade ao status quo e acabamos nos tornando insípidos. Não percebemos mais os sabores do viver.
E pior: educamos nossos filhos assim, para serem os melhores (ou melhores que os outros), desenvolvendo-lhes o egocentrismo. Ensinamos-lhes o valor do trabalho, para que ganhem muito dinheiro e sejam felizes sozinhos. Lembro-me de uma tirinha do cartunista argentino Quino que traduz muito bem isso. Meu amigo Coqueiro postou-a outro dia. Reproduzo-a abaixo:
Saio do ônibus rapidamente, na frente de todos os demais. Sigo caminhando sozinho para o trabalho. Um outro colega vem logo atrás de mim, mas não o espero. Tenho pressa de chegar ao trabalho, sentar-me à mesa e isolar-me ainda mais. Mas intimamente coloco-me que jamais devo esquecer meus valores.