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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um caminho

A poesia manifesta-se de várias maneiras. Publico, a pedido de um aluno meu e para incentivá-lo, alguns poemas de sua autoria neste post. Devanil, aluno do 2º Período da EJA (Educação de Jovens e Adultos) do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Dora Silva.
A poesia do Devanil é de muita sensibilidade. Procurei fazer o mínimo de correções nos seus textos, respeitando ao máximo a sintaxe adotada por ele. Se considerarmos a norma culta, provavelmente muitos erros serão encontrados. Mas não é esse o objetivo deste post. Como coloquei no início, a poesia manifesta-se de várias maneiras. E é exatamente isso que os textos do Devanil nos proporciona: a oportunidade de perceber o lirismo evidente em seus versos.
Acredito que o Devanil, através de sua poesia, poderá desenvolver outras competências linguísticas e certamente o conhecimento da norma gramatical será uma delas, talvez a menos importante em sua vida. A mais importante competência linguística é a capacidade de expressar os seus sentimentos, sua percepção de mundo, de forma espontânea, muito mais essencial que o conhecimento da norma culta pura, sem aplicação prática. Suas poesias são um caminho...
Alguns de seus poemas não têm título. Faço então como fizeram com o Pessoa: o primeiro verso é o título do texto.
Vamos aos textos...



“Busquei por milhares de vezes...”


Busquei por milhares de vezes
palavras para expressar o quanto te amo
mas palavras exalam um som bonito
mas se perdem no ar
flores são lindas
mas murcham e as pétalas caem com o tempo
as estrelas sim seriam o ideal
mas como te dar elas
se você é a estrela que me dá direção e força
para que eu possa ir em busca do presente perfeito
para lhe dar
foi aí então que encontrei um livro velho com páginas em branco
pois sabia que você é uma excelente escritora
e ainda sei que você é capaz de escrever a nossa história
com paixão, ternura, cumplicidade
e por isso descobrir que a minha maior prova de amor
foi o meu coração, o meu caminho
para que eu possa te fazer feliz por toda a eternidade
e todas as outras vidas serei seu e você será minha.



“Fúria de amar (reflexões em torrentes do coração)”

Teria eu simplesmente amor à vida de tal maneira que de tantos sonhos não conseguiria viver a realidade. Mas que realidade é essa que só me faz sofrer por me sentir sozinho talvez porque vivo buscando o que não tem busca ou seria talvez o meu coração que está transbordando de sentimentos gritando ou até mesmo sentindo uma saudade nostálgica? Pois me sinto sozinho em meio à multidão e tendo como o meu maior aliado o silêncio que é banhado por lágrimas, por ter tantas feridas, pois as feridas do corpo cicatrizam, mas as feridas da alma talvez nem em um século vão cicatrizar, porque essas feridas não são de um tapa ou mesmo de uma queda, mas sim de palavras e feitos que não têm cura pois pessoas não machucam pessoas mas as palavras deixam marcas que vão pela eternidade. Pois mais vale a tristeza de uma queda que a derrota de nunca ter tentado ser feliz. E porque na caminhada que fazemos seria muito imprescindível conquistar seu lugar. Então continuo minha caminhada, caindo, me levantando para caminhar de novo, mas vou amar e ser feliz e poder dizer que valeu a pena até o dia em que devem fechar meus olhos, mas mesmo assim eu teria deixado a semente plantada e bem regada.



“Ser amigo”


Ser amigo não é apenas arte para muitos
mas sim para pessoas iluminadas
que não se julgam a mais ou a menos.
É saber dizer o sim e ao mesmo tempo um não
É saber sorrir não porque você conseguiu
mas sim por descobrir o quanto você é capaz.
E brilhar no meio de muitos
e não se deixar apagar por comentários de terceiros
e encontrar forças para estar sempre brilhando
e se transformar em uma águia
para sempre estar buscando novos horizontes.
Mas, acima disso tudo
DEUS sempre caminhando
com tudo em sua vida.




“O olhar de um egoísta”



Procurei em mil lugares
te encontrar para que
eu fosse feliz mas me
esquecendo que todos os
dias e a todo momento
você estava comigo mas
eu estava tão cego com a
minha verdade e o meu
egoísmo já tinha me
esquecido que você se
manifesta em todos os
seres vivos nas formas
mais sublimes da humildade:
o mais o que seria essa forma
em um sorriso de uma criança
na leveza do voo dos pássaros
ou até mesmo na fina e inacessível
brisa que sopra para refrescar
sua pele como se estivesse massageando
você com um véu de seda do campo.
Pois ele se faz ver a todo momento
e mais e mostra que você
precisa perder esse egoísmo para
poder ver que ele tá em tudo
te amando, respeitando e sem
cobrar de você
estou aqui




domingo, 26 de dezembro de 2010

Depois do Natal


Passado um dia do Natal, resolvo publicar este post. A poesia já estava pronta há alguns dias, mas não tive coragem de publicá-la antes.

A grande verdade é que o Natal sempre se apresenta para mim como um momento de reflexão e de confraternização, comguirlandao acontece com a maioria das famílias. Isso não é novidade alguma. Mas é uma data especial, por isso publico esse post.  Faço-o mais por mim mesmo, do que por qualquer outra coisa.


Para o Natal

Quando chega o Natal
Penso em que eu vou fazer
Na noite de chuva que virá
Pois chove dentro de mim


Quando chega o Natal
Reflito no sentido real
Que tem essa chuva
Que vem me inundar


É uma chuva serena
Quando chega o Natal
Lava-me o espírito
Faz-me ser um ser melhor


Quando chega o Natal
Um sentimento maior
Surge dentro de mim
Junto com essa chuva


Lembro-me então do motivo
De comemorarmos o Natal
Não é um simples nascimento
Não é um simples momento


A rima surge então para dar valor
Àquilo que essa chuva me traz
Um imenso, um enorme amor
Que me invade cada vez mais


Faz-me entender o Natal
Como algo muito natural
Um dia incomum na vida…
Na procura da rima, a lida
Faz-me aumentar a estrofe do poema
E este verso maior não é problema
Menor que o anterior
Mais grande que pequeno
Não o faz ser superior
E sim mais sereno…

guirlanda

sábado, 18 de dezembro de 2010

Sobre a decepção

Esta sexta-feira revelou-se um dia muito contraditório para mim. Primeiramente por um momento de plena felicidade e, eu diria até mesmo de êxtase, ao poder presenciar o Concerto de Aniversário (93 anos) da querida Banda de Música Euterpe Santa Luzia. O outro momento, que me leva a este post, foi de muita tristeza. O Conselho de Classe da escola onde leciono revelou-me a decepção pelo resultado de alguns alunos que, infelizmente, não obtiveram sucesso na tentativa de progressão.


É para mim sempre triste ver o mau resultado do aluno. Como educador, torço pelo sucesso de todos aqueles que trabalham junto a mim nas salas de aula e sinto-me responsável direto por encaminhá-los a um caminho que considero bom. Os educadores não somos donos da verdade, mas não devemos viver uma mentira. Querer aprovar os alunos a todo custo não é e nunca será a melhor solução. Reprová-los também não é. Então, o que fazer?


Acredito que a resposta não é muito simples. Creio, entretanto, que deve haver uma divisão de responsabilidades. Não sou adepto do discurso de que "se o aluno não aprendeu é porque o professor não ensinou". Sinceramente, já pensei assim e muitas noites mal dormidas remoendo o meu suposto fracasso eu passei. Mas mudei de opinião. Acredito hoje, depois de 25 anos de magistério, que a aprendizagem é uma via de mão dupla. Mudo o discurso para "se o aluno não aprendeu é porque ainda não entendeu o quanto isso é importante em sua vida". A aprendizagem é uma via de mão dupla e o aluno deve ter em mente que ele precisa mover-se para aprender. E a aprendizagem é fruto de trabalho. De muito trabalho. A escola não é apenas um espaço lúdico. É, na sua essência, um lugar de muito trabalho. E quem não trabalha, não evolui. Esta é a verdadeira seleção natural. A sociedade cobra muito mais que a escola, que jamais deve se furtar ao papel de verdadeiramente preparar os jovens para a vida social.


Isso pode nos trazer, muitas vezes, a revolta dos alunos que não vencem os desafios da progressão escolar. Muitos são os motivos que levam a isso, mas o que não consigo entender é porque mais recentemente as coisas estão piores, descambando para o campo da violência contra educadores. Já publiquei um post em "Os Invicioneiros" a respeito desse tema. Abordo especialmente a morte do professor Kássio Vinícius, assassinado selvagemente por um aluno. Recebi neste sábado um e-mail de um amigo a respeito do mesmo tema. Achei a abordagem brilhante e gostaria de compartilhá-la com os leitores deste blog.



J’ACUSE !!!
(Eu acuso !)

(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)
"Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice." (Émile Zola)
"Meu dever é falar, não quero ser cúmplice."


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.


Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e  do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os  “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.



(Igor Pantuzza Wildmann - Advogado, Doutor em Direito. Professor universitário)


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Reproduzo esse texto como forma de divulgar uma brilhante cutucada na nossa sociedade e uma oportunidade de repensarmos o valor da educação, lembrando que apenas uma pequena parte dela ocorre nos bancos escolares. O verdadeiro educandário é o lar e a vida social é cheia de provas difíceis (muito mais do que as provas de Língua Portuguesa do professor Ernane Duarte).


Teacher and students, Holland Marsh, [ca. 1953]
Gordon W. Powley fonds - Black and white negative - Reference Code: C 5-1-0-183-12