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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Neimar de Barros – Deus Negro

 

Deus Negro.

 

 

Vejo, por acaso, uma frase na internet atribuída a Neimar de Barros. Não, ele não foi jogador de futebol. Lembro-me então de quanto esse escritor influenciou-me quanto tinha meus treze anos e um pouco mais. Foi-me apresentado em livro (“Deus Negro”) por meu irmão padrinho, o Dendê (nunca o chamo assim fora da blogosfera). É um livro de palavras impressionantes! Despertou em mim uma religiosidade resistente que me alimenta até hoje e que é a base de minha estrutura humana.

 

No momento em que li de novo palavras de Neimar de Barros, percebi que não o conhecia bem, não sabia da sua história nem porque escritor tão badalado que foi naquele tempo não era mais falado nos meios editoriais que frequento. Perguntei ao detetive Google e ele revelou-me coisas muito interessantes a respeito desse homem. Reproduzo abaixo a síntese de algumas dessas informações, colhidas em alguns sítios da rede.

 

Neimar de Barros, antes de se tornar escritor, trabalhava com o Sílvio Santos. Segundo a Wikipedia, era conhecido produtor de televisão da equipe do homem do sorriso. No início da década de 70, teria criado e produzido programas de grande audiência como “Cidade contra Cidade”, “Boa Noite Cinderela”, entre outros.

 

Ainda segundo a enciclopédia virtual, Em 1971 foi convidado a participar de um encontro dentro da Igreja Católica, o “cursilho”. Como ateu, ele aceitou desafiar o convite dizendo que só acreditava no que podia ver. No terceiro e último dia, depois de ter aprontado e atrapalhado o encontro, entrou na capela e algo o fez ajoelhar-se, uma grande emoção o tomou e ali naquela hora aconteceu sua conversão.

 

Acabou deixando o trabalho na antiga TVS e tornou-se o famoso escritor de mais de 10 livros de temática religiosa (inclusive em espanhol), com destaque para o best-seller “Deus Negro”, que vendeu mais de 4 milhões de exemplares. Virou palestrante, lotando ginásios de esportes, auditórios, igrejas e teatros, com tanto destaque, que foi capa da revista “Família Cristã”, a maior publicação católica do Brasil, da editora Paulinas. Como leigo conseguiu quebrar vários paradigmas, sendo uma forte referência dentro da Igreja Católica.

 

Mas como nem tudo que é bom dura para sempre, esse Neimar de Barros passou por vários problemas não divulgados claramente (suspeita-se que teve problemas psicológicos e neurológicos) e algo mudou. Em 1986, ele concedeu uma entrevista bombástica à revista Veja, revelando que sua conversão teria sido uma farsa. Ele contou ter sido contratado por uma loja maçônica internacional (P2), para se infiltrar na Igreja Católica e repassar informações sobre a conduta de religiosos. A maioria de seus admiradores não acreditou nessa história, e sabemos que a Revista Veja teve recordes de venda naquela semana, ultrapassando 900 mil exemplares. Depois disso, Neimar escreveu dois livros contando a mesma história, sem sucesso e que nunca foi comprovada.

 

 

A_VERDADE_DE_NEIMAR_DE_BARROS

 

 

Oculto por alguns anos, ele depois reapareceu na equipe de Sílvio Santos, trabalhando novamente como produtor. Hoje leva uma vida simples, e fica a dúvida se o autor de “Deus Negro” de fato existiu ou foi um personagem de uma história ainda incompleta. Mas não há nenhuma dúvida de que sua obra foi um marco na vida de toda uma geração que leu seus livros, em especial “Deus Negro”.

 

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DEUS NEGRO

Autor: Neimar de Barros

 

 

Eu, detestando pretos,

Eu, sem coração!...

Eu, perdido num coreto,

Gritando: “Separação”!

Eu, você, nós... nós todos,

Cheios de preconceitos,

Fugindo como se eles carregassem lodo,

Lodo na cor...

E com petulância, arrogância,

Afastando a pele irmã.

 

Mas

Estou pensando agora:

E quando chegar minha hora?

Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã!

Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,

Se eu chegasse lá e um porteiro manco,

Como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,

E eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei

Se a sua mão tateasse pelo trinco,

Como as mãos do cego que não ajudei!

 

Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei!

Se uma criança me tomasse pela mão,

Criança como aquela que não embalei

E me levasse por um corredor florido, colorido,

Como as flores que eu jamais dei!

 

Se eu sentisse o chão frio,

Como o dos presídios que não visitei!

Se eu visse as paredes caindo,

Como as das creches e asilos que não ajudei!

 

E se a criança tirasse corpos do caminho,

Corpos que eu não levantei

Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,

Que era vagabundagem, mas era fome!

 

Meu Deus!

Agora me assusta pronunciar seu nome!

E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,

Da prostituta que eu usei,

Ou do moribundo que não olhei,

Ou da velha que não respeitei,

Ou da mãe que não amei!...

 

Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,

Porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,

Sei lá, só dei desgosto!

E, no fim do corredor, o início da decepção!

 

Que raiva, que desespero,

Se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,

O maldito funcionário, e até, até o padeiro,

Todos sorrindo não sei de quê!

Ah! Sei sim, riem da minha decepção.

 

Deus não está vestido de ouro! Mas como???

Está num simples trono:

Simples como não fui, humilde como não sou.

Deus decepção!

Deus na cor que eu não queria,

Deus cara a cara, face a face,

Sem aquela imponente classe.

Deus simples! Deus negro!

Deus negro!?

 

E Eu...

Racista, egoísta. E agora?

Na terra só persegui os pretos,

Não aluguei casa, não apertei a mão.

Meu Deus você é negro, que desilusão!

Será que vai me dar uma morada?

Será que vai apertar minha mão? Que nada!

 

Meu Deus você é negro, que decepção !

Não dei emprego, virei o rosto. E agora?

Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?

Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?

 

Deus, eu não podia adivinhar.

Por que você se fez assim?

Por que se fez preto, preto como o engraxate,

Aquele que expulsei da frente de casa!

 

Deus, pregaram você na cruz

E você me pregou uma peça:

Eu me esforcei à beça em tantas coisas,

E cheguei até a pensar em amor,

Mas nunca,

nunca pensei em adivinhar sua cor!...

 

© Neimar de Barros

 

 

Deus Negro