Nesta manhã de sábado, véspera natalina, assisti novamente ao filme “Assassinato de John Lennon”, um filme instigante que invade a cabeça perturbada de Mark David Chapman, o assassino. O britânico Andrew Piddington, diretor do filme, tenta recriar os planos diabólicos do maníaco narcisista para se tornar famoso, acabando com a vida de Lennon. O ator Jonas Ball, à época pouco conhecido, faz uma interpretação assustadora do maluco que encerrou a vida de um artista e do homem que marcou várias gerações mundo afora. Se quiser saber detalhes desse triste episódio, basta clicar aqui. Inclusive, a cena do filme está no Youtube.
Mas não é sobre isso que quero falar, exatamente. queria falar de uma ideia que me passou pela cabeça: se John não tivesse morrido? Como seria sua carreira posterior a tudo isso. Como se passaram 30 anos desse triste episódio, resolvi escrever um post somente sobre o que ocorreria nos oito primeiros anos após o que seria a tentativa frustrada de Chapman. Vejamos então…
“Se John Lennon não tivesse morrido”
Depois de ter sobrevivido à tentativa de assassinato, John Lennon resolveu dar um tempo em sua carreira. Passou uma semana em coma e três meses internado no hospital, mas conseguiu sobreviver sem sequelas físicas aos tiros do maníaco, cujo nome não gostava de ouvir, o que mostrava que as marcas psicológicas ficariam indelevelmente em sua alma.
John e Yoko foram para o Japão com o filho Sean. Billy Preston, Paul, George e Ringo foram ficar com ele por várias semanas. Surgiu o boato de que se reuniriam novamente, o que foi negado veemente por todos. Mas não restava dúvidas de que o que acontecera com John os reunira novamente, não como artistas, mas como amigos. A perspectiva de perder John foi algo que mexeu com todos eles.
As várias semanas juntos evidentemente dariam frutos: muitas canções foram compostas. Combinaram que seriam lançados álbuns individuais com elas. Paul lançou em 12 de setembro de 1982 o LP “Ressurrection”, cuja música principal, “Little bird”, tinha o seguinte trecho: “We’re just men who fight for peace / Hold me in your wings, little dove / We can’t fight anymore / We can just sleep and dream…” (“Somos apenas homens que lutam por paz / Abrace-me em suas asas, pombinha / Nós não podemos lutar mais / Só queremos dormir e sonhar…”).
George também lançou, alguns dias depois, em 27 de setembro de 1982, um LP que tinha como música principal a angustiada canção “Pain”, acompanhada por um solo maravilhoso da guitarra do amigo Eric Clapton no trecho: “My heart bleeds of pain / I imagine another song / People would be happy and can / Make different things as love each other…” (Meu coração sangra de dor / Eu imaginei uma outra canção / As pessoas seriam felizes e poderiam / Fazer coisas diferentes como amar um ao outro…”).
Ringo demorou mais de um ano para gravar um novo LP, mas quando o fez, em 22 de fevereiro de 1983, apareceram várias canções, com destaque para a alegre “The yes song”, que dizia “We have many reasons to laugh / including the fact of being alive / then we go to another level, where the angels sing live life…” (“nós temos vários motivos para rir / inclusive o fato de estarmos vivos / nós vamos então para outro nível / onde os anjos cantam ao vivo a vida…”).
Billy Preston, por sua vez, foi convidado por John para gravar com ele seu novo LP, após quatro anos, em 1985. O LP foi lançado no dia 6 de janeiro, mostrando um novo lado interessante de John Lennon: ele tinha se tornado um estudioso da história das religiões e isso aparecia em várias canções. Inclusive, a escolha da data de lançamento tinha a ver com a história dos Reis Magos do Oriente que visitaram Jesus em Belém. O disco se chamava, aliás, “Journey”, que relatava a jornada de John Lennon até aquele momento. A participação de seu filho Julian, então com 22 anos, foi maravilhosa. O sucesso foi estrondoso. Tornou-se o disco mais vendido da história, com vários prêmios mundo afora. John, no entanto, continuava sem dar entrevistas e raramente era visto em público. Mas era respeitado por sua posição. A música que mais se destacou no disco, “Trip”, revelava o seu sentimento e, de certa forma, justificava essa ausência: “Now, I know I have fear/ I made a trip to paradise / But God wanted me to be here / I do not remember the way / But this man is separated / From myth that I became a day…” (“Eu agora tenho muito medo / Eu fiz uma viagem ao paraíso / Mas Deus quis que eu estivesse aqui / Eu não me lembro do caminho / Porém este homem está separado / Do mito que me tornei um dia…”).
John continua recluso. Não está mais no Japão. Dizem que vive viajando. Por volta de 1987, dizem tê-lo visto em duas pequenas cidades do interior de Minas Gerais, no Brasil. Caetanópolis e Paraopeba chamaram-lhe a atenção pelo contato que ele teve com Mílton Nascimento, o Bituca, que lhe contou a história de Clara Nunes, sua amiga e a maior cantora do Brasil até os anos atuais. Inclusive, Clara recebera o Grammy em 2011 pelo conjunto da obra e uma de suas principais interpretações, do compositor mineiro Armando Fernandes Aguiar (Mamão), “Tristeza Pé no Chão”, teve uma versão maravilhosa da dupla Julian e Sean Lennon, que se apaixonaram pela música brasileira e gravaram em português, porque não conseguiram traduzir a saudade: “Dei um aperto de saudade no meu tamborim / Molhei o pano da cuíca com as minhas lágrimas / Dei meu tempo de espera para a marcação e cantei / A minha vida na avenida sem empolgação…”
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Realmente, não dá para traduzir a saudade. Temos saudade de John e de tudo o que ele representou. Essa época do ano sempre serve para lembrar disso.
Deixo ao leitor meus desejos de boas festas, que o Natal seja de muita felicidade e reflexão a respeito da figura do aniversariante e do que Ele representou. Ele é mais popular que os Beatles. Digo isso dentro do contexto.
Feliz Natal! Feliz 2012!